A transição e o prestígio do poder em ciclo de dinastia

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Em períodos de eleições Sempre ouvimos pelas ruas frases do tipo: “Ele ou ela vai colocar a filha, o filho, a esposa ou o marido para ser candidato, com certeza”. É quase um mantra. De fato é, mas isso é uma sinergia entre os eleitores que tem como combustível a própria história eleitoral no Brasil, que tem em si os grandes clãs ou dinastias dentro do mundo político que mira, obviamente, a manutenção do controle do poder nas cidades e nas prefeituras e na região oeste da Grande São Paulo não é diferente.

Em linhas gerais, a oligarquia que existe por aqui traz nomes fortes e com expressão nacional, como Rubens Furlan, Francisco Rossi, para citar os dois mais conhecidos. Furlan exerce o cargo de prefeito pela sexta vez e agora tem o nome na mesma posição para 2022. Rossi, por sua vez, ex-prefeito de Osasco, quase chega ao Palácio dos Bandeirantes. Vejamos.

Em Osasco, Ana Maria Rossi, esposa de Francisco Rossi, é vice-prefeita de Rogério Lins no primeiro mandato e neste segundo governo de reeleição. Evidentemente há o prestígio de Rossi na condução ao cargo da vice de Lins, afinal ele é um notável na política, isso sem contar que Ana Paula Rossi, filha de Ana Maria e Rossi, segue como vereadora e já ocupou cargo de secretária municipal. Tal pai, tal mãe, tal filha.

E em Barueri, Bruna Furlan e seu irmão Furlan Filho são destaques na política. Bruna está em seu terceiro mandato como deputada federal, tendo atuação importante no Congresso e há quem diga que a Prefeitura de Barueri poderá ser ocupada por uma ainda jovem e já experiente deputada federal. Pode ser. Furlan Filho já alça voos regionais como vice-presidente do PSDB de Barueri e foi muito atuante nas eleições de 2020 apoiando vereadores do seu grupo, que é o mesmo de Furlan pai. Bruna é ainda vice-presidente nacional do PSDB e deve se candidatar a deputada estadual para que Furlan Filho possa estrear no Congresso em seu lugar em sua primeira tentativa em 2022.

Na cidade ao lado, em Carapicuíba, Marcos Neves, ex-deputado estadual e atual prefeito da cidade, seguiu os passos do pai Luiz Carlos Neves, ex-prefeito e atual secretário de governo do filho. Em Carapicuíba um projeto de poder que não rendeu muitos frutos na transição rumo à Prefeitura foi entre o ex-prefeito Fuad Chucre e seu filho Fernando Chucre, ex-deputado federal.

Já em Santana do Parnaíba, o atual deputado estadual Marmo Cezar é eleito com o prestígio do filho, o recente ex-prefeito Elvis Cezar, que se manteve no cargo por dois mandatos consecutivos. Marmo Cezar foi eleito e tomou posse como prefeito, mas não pode tomar posse do cargo por conta de ação impetrada por Silvio Peccioli, ex-prefeito da cidade, que hoje tem seu filho, Silvio Peccioli Filho, como vereador na cidade.

Ainda em Santana de Parnaíba, Andrea Bueno, secretária de Assistência Social em Santana de Parnaíba, é esposa de Raul Bueno, ex-prefeito de Raul Bueno. Andrea disputou as últimas eleições à prefeita de Pirapora, mas não foi dessa vez que Raul Bueno conseguiu manter o poder em família.

A vizinha de Santana de Parnaíba, Araçariguama, é outra cidade na qual a gestão da esposa não deu muitos frutos ao marido na política. Lili Aymar, esposa do ex-prefeito Carlos Aymar, chegou a ocupar o cargo de prefeita, mas foi afastada do cargo antes de terminar o mandato. Carlos Aymar chegou a ser preso, fato que respingou no trabalho de Lili Aymar.

De volta à Estrada dos Romeiros, Toninho Ribas, ex-prefeito de Cajamar, transferiu temporariamente seu prestígio para sua esposa, Paula Ribas, que foi empossada e afastada do cargo em seguida. Em 2016 ela disputou com o atual prefeito Danilo Juan, que saiu vencedor e foi reeleito em 2020. Danilo é filho de Toninho Juan, que também já foi político na cidade.

Indo para os clãs da Raposo Tavares, em Cotia, a cidade teve o ex-prefeito Carlão Camargo, que conseguiu eleger seu irmão Márcio Camargo como deputado estadual. A família Camargo governa Cotia há décadas. Isso sem contar o ex-prefeito Joaquim Pedroso Neto, cujo avô foi beneficiário das capitanias hereditárias na região, o que não deixa ser uma relativa transferência de tradição e poder conforme registra a história do Brasil.

Em Vargem Grande Paulista, ex-distrito de Cotia há pouco mais de duas décadas, o atual prefeito Josué Ramos tem como seu braço direito o seu filho Danilo Ramos com importância estratégica no governo do pai na cidade.

Já em Itapevi é preciso lembrar o governo do ex-prefeito João Caramez, filho de Rubens Caramez, também ex-prefeito, e marido de Dalvani Caramez, também ex-prefeita da cidade. Na cidade ainda temos o ex-prefeito Jurandir Salvarani e sua esposa Sônia Salvarani, ex-vereadora.

Jandira é a única cidade onde a transição de poder não ocorreu pelas mãos de pai para filho, de filho para pai, de marido para esposa ou de esposa para marido e assim por diante.

Hoje, a região Oeste da Grande São Paulo conta com prefeitos jovens como Igor Soares, Rogérios Lins e Marcos Neves, os três reeleitos, incluindo Furlan, que já vem de outra geração. Mas estes mais novos não colocaram em prática ainda o berço familiar em campo. Com exceção de Lins e Igor, apenas Neves vem como político de berço, mesmo assim deve formar um trio com outros dois colegas em um novo modelo de transferência de poder.

A política flutua como nuvens e a cada momento está em um lugar, mudando de forma tão singular que nem todos conseguem perceber os seus deslocamentos. É muito importante dizer, que entre as nuvens existem as cumulonimbus, nuvens consideradas muito perigosas e capazes de produzir neve, chuva, granizo, tornados e raios. Atenção ao céu.

Marcos Agostinho Silva é sociólogo, cientista político e diretor do Instituto MAS Pesquisa.